Plástico de uso único e mudança climática
por Paulina Chamorro, Comunicadora e Educadora Ambiental | @pauli_chamorro
Fechando o Julho sem Plástico, um movimento global para alertar, conhecer, debater e lutar por um mundo com menos plástico, e infelizmente estamos encerrando com dados nada animadores.
Atualmente, são colocadas no ambiente cerca de um caminhão por minuto de resíduos plásticos no oceano. São materiais que não foram reciclados e pior, nem pensaram em ser reciclados quando criados.
Olha para tua volta. Quanto tem de plástico? Quanto disso é durável e quanto é de uso único?
O Brasil tem uma conta absurda e um peso enorme nessa história. De acordo com a ONG Oceana, que fez o primeiro e mais completo levantamento sobre o uso do plástico no Brasil (antes a gente só tinha estimativas mais vagas), o país produz 500 bilhões de itens plásticos descartáveis por ano.
A maior parte disso não será reciclada jamais, gerando montanhas de resíduos, que não vão se degradar, em aterros (no melhor dos mundos), e em lixões, uma realidade brasileira.
Dali, para chegar em córregos, depois no mar, virar microplástico e se espalhar por todos os ambientes, é um pulo.
E é um volume no Brasil que não dá conta de ser reciclado. Infelizmente esta é uma realidade em todo o mundo. Não se recicla cerca de 90% do plástico que é colocado no mercado. Ou seria ambiente?
Outro fator importante nesta dinâmica ineficiente é que a maioria dos plásticos que temos acesso são embalagens e utensílios que ficam muito pouco tempo na mão ou em uso e depois são descartados. Acontece que boa parte do plástico usado, apesar de ter o símbolo de reciclagem, não pode ser reciclado. É feito com misturas de materiais, que simplesmente na hora de mandar para processamento não é aceito de volta.
Há muitas, décadas, acompanho, falo e escrevo com atenção a questão do consumo, geração de resíduos e a crescente produção e oferta de plástico descartável, de uso único. E tenho visto e conversado com muitos representantes de cooperativas de catadores e catadoras, estes trabalhadores que são verdadeiros agentes ambientais e que têm a perfeita noção do tamanho da encrenca sobre resíduos nas cidades. E o plástico, ainda mais depois da pandemia, só tem se acumulado e acumulado nas cooperativas.
Com a pandemia, aumentou ainda mais o volume de descartáveis que são difíceis de serem reciclados, como o isopor ou as sacolinhas de delivery. No setor de delivery, a propósito, o consumo saltou 46% de 2019 a 2021. São 25 mil toneladas de plásticos de único uso. Ou 68 toneladas por dia e 2,8 toneladas por hora.
Pois bem, era para te alarmar mesmo. Este é o mundo real atolado em plástico.
Se a reciclagem não funciona e estamos atolados em plásticos e a produção só aumenta, o que podemos fazer? E o que isso tem a ver com a mudança climática?
Plástico, petróleo e mudanças climáticas
Vamos lá. Na última Conferência dos Oceanos, em Lisboa, Portugal, terminada em 1 de julho de 2022, e que teve como um dos centros das discussões a poluição plástica como um fator de declínio de saúde dos mares, uma declaração de uma ministra de meio ambiente me pegou: o plástico é um derramamento de petróleo lento nos mares.
E é isso mesmo.
O plástico é feito de petróleo, sabia? Atualmente, 8% da extração de petróleo é para produzir plástico, sendo 4% usado como matéria-prima e a outra parte na energia para produzir (dados da UN Ocean Conference 2022, ONU).
E o que ouvi em Lisboa é que vamos chegar nesse ritmo de produção, a 20% do uso de petróleo para a produção de plástico até 2050. Ou seja, vamos dobrar em pouco mais de 25 anos.
A emissão de gases de efeito estufa devido à ação humana é a principal causa das mudanças climáticas e alteração profunda que estamos causando no Planeta. Parece um universo distópico que ainda estejamos vendo projeções de aumento de produção de um material que não é reciclado, que não é reutilizado e que não tem fim. O plástico não desaparece mais. Ele fica no ambiente, e já está até no ar que respiramos e no sangue que corre em nossas veias.
Ainda falando de mudança climática e o plástico, já temos zonas mortas no mar, criadas por camadas de plástico e microplástico, que não deixam que exista a evaporação e fornecimento de oxigênio, outra função primordial dos mares. Com isso, também o oceano perde sua capacidade de absorção de carbono e do calor do Planeta.
Imaginou o tamanho do enrosco?
A solução é uma mudança radical na forma de produção. Estancar.
Quais são as soluções possíveis?
O papel das empresas hoje é criar, inovar, gerar alternativas – que existem, e aos montes, a partir de fontes renováveis ou naturais, para que a sociedade possa ter alternativas de viver em um Planeta livre de plástico descartável. E o nosso? Seguir cobrando e fazendo as escolhas certas, quando possível.
Não existe Planeta B e nem plano B.
Continue lendo, se informando e disseminando hábitos mais conscientes. Seu engajamento é fundamental para uma mudança macro significativa.
Sozinhas somos gota, juntas oceano. Para saber mais:
“No Brasil produzimos 2,95 milhões de toneladas de plásticos de uso único, produtos e embalagens que não são concebidos, projetados ou colocados no mercado para perfazer múltiplas viagens ou rotações no seu ciclo de vida. Do volume total de produção de plástico de uso único, 87% corresponde à categoria de embalagens em geral e 13% à categoria de produtos descartáveis como pratos, talheres, copos, sacolas plásticas e canudos. Isso equivale a produzir cerca de 500 bilhões de itens descartáveis, como copos, talheres, sacolas plásticas, e embalagens em geral – tanto rígidas quanto flexíveis –, que representam a maior fatia do mercado de plásticos de uso único”. Diz o relatório “Um Oceano Livre de Plastico”.
Paulina Chamorro é jornalista com mais de duas décadas de cobertura em temas ambientais. Fez do Oiapoque ao Chui em um veleiro para o projeto Mar sem Fim. Teve por 10 anos programa de rádio da Rádio Eldorado.
Apresenta o Vozes do Planeta, um podcast pioneiro de temas ambientais no Brasil com seis anos de estrada.
E é colaboradora da National Geographic Brasil, GO Outside e O Eco e integrante desde a fundação da Liga das Mulheres pelo Oceano.