No centro da celebração do Dia Internacional da Mulher, é nosso dever não apenas reconhecer as conquistas históricas das mulheres, mas também refletir sobre as lutas contínuas que elas enfrentam. Uma dessas batalhas é pela invisibilidade dos afazeres domésticos, uma carga desproporcionalmente atribuída às mulheres ao longo da história.
Ao nos aprofundarmos nas páginas do livro de Silvia Federici, “O ponto zero da Revolução“, somos confrontados com a realidade penetrante de que o trabalho doméstico foi sistematicamente desvalorizado e naturalizado como parte natural da feminilidade. Federici nos lembra de que, enquanto as mulheres desempenham essas funções vitais sem remuneração, seu trabalho é desconsiderado e subestimado.
O livro aponta que o capitalismo tem interesse em manter o trabalho doméstico invisível e desvalorizado, pois isso assegura uma fonte constante de mão-de-obra não remunerada. Essa invisibilidade não apenas perpetua a desigualdade de gênero, mas também mantém as mulheres em uma posição de vulnerabilidade e dependência econômica.
O trabalho doméstico vai além das tarefas diárias de limpeza e cuidado com os filhos; é um investimento vital na produção da força de trabalho que impulsiona toda a economia. Atrás de cada fábrica, escola ou escritório, há o trabalho incansável de milhões de mulheres que contribuem diretamente para sustentar o tecido social e econômico de nossas sociedades.
É crucial reconhecer que a falta de remuneração pelo trabalho doméstico não é apenas uma questão de injustiça econômica, mas também uma questão de saúde e bem-estar das mulheres. Muitas enfrentam duplas jornadas de trabalho, equilibrando empregos mal remunerados com responsabilidades domésticas, o que leva a uma carga física e mental insustentável.
Para promover a igualdade de gênero, devemos tomar medidas concretas para tornar o trabalho doméstico visível e valorizado. Isso inclui reconhecer a importância dessas tarefas para a economia, garantindo condições dignas para as trabalhadoras domésticas e compartilhando equitativamente as responsabilidades entre todos os membros da sociedade.
Além disso, é essencial criar políticas e programas que apoiem as mulheres em sua jornada de equilibrar trabalho remunerado e doméstico, como licença parental remunerada, creches acessíveis e horários de trabalho flexíveis. Educar a sociedade sobre a importância do trabalho doméstico e desafiar estereótipos de gênero também são passos cruciais para promover uma divisão mais justa e equitativa.
No Brasil, temos dois projetos em regulamentação, o primeiro deles é o da Lei nº 638, de 2019, que propõe a inclusão da economia do cuidado no sistema de contas nacionais, para que, a partir da avaliação econômica oficial, possa haver políticas públicas específicas. E o segundo deles é o projeto 2.647, de 2021, que prevê a possibilidade de incluir o cuidado doméstico na contribuição para a aposentadoria. Esse é o primeiro passo para a mudança que queremos ver e precisamos, somente através do reconhecimento e da redistribuição equitativa do trabalho doméstico podemos alcançar a igualdade de gênero e justiça para todas.
Conscientes da questão, podemos criar um futuro onde o trabalho das mulheres seja celebrado, valorizado e os afazeres domésticos sejam compartilhados por todos. Vamos unir nossas vozes e ações para construir um mundo mais justo e igualitário para cada mulher e para as gerações futuras.
Por Marcella Zambardino, Cofundadora e Diretora de Impacto da positiv.a, inspirado em trechos do livro de Silvia Federici: O ponto zero da Revolução.