Embora ainda seja verão no Brasil, os brasileiros já estão com uma preocupação ainda maior que o preço alto dos ovos de Páscoa: a dengue. A população se vê refém do mosquito Aedes aegypti, intruso e resistente. Postos e hospitais de todo país estão lotados com crianças e adultos com sintomas, suspeitas e confirmações. O número de mortes em 2024 já chega a 300.
O que é a dengue?
A dengue é uma doença viral, também conhecida como arbovirose, transmitida pela picada de mosquitos fêmea do gênero Aedes, principalmente o Aedes aegypti.
Arboviroses: As arboviroses são doenças causadas por arbovírus, que incluem os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. O vírus da dengue é um arbovírus.
Sorotipos do vírus da dengue: Existem quatro sorotipos distintos do vírus da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4). A recuperação da infecção por um sorotipo fornece imunidade vitalícia contra esse sorotipo específico.
Imunidade cruzada e dengue grave: A imunidade cruzada para os outros sorotipos após a recuperação é apenas parcial e temporária. Isso significa que uma pessoa que já teve dengue por um sorotipo pode ser infectada por outro sorotipo posteriormente. Infecções subsequentes aumentam o risco de desenvolver dengue grave.
Dengue: uma doença tropical com raízes socioeconômicas
A dengue é uma doença prevalente em regiões tropicais, com variações no risco de acordo com fatores locais como precipitação, temperatura e urbanização rápida e não planejada. A escassez de água no verão, condições precárias em áreas de baixa renda e infraestrutura debilitada, como a falta de rede de esgoto e o acúmulo de lixo a céu aberto, contribuem para o aumento da incidência da doença.
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O Aedes aegypti: um viajante histórico com um legado perigoso
O mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue, faz parte da história da humanidade e se espalhou pelo mundo desde o período das colonizações. Originário do Egito, na África, o mosquito se disseminou pelas regiões tropicais e subtropicais do planeta a partir do século 16, impulsionado pelas Grandes Navegações. Acredita-se que o vetor tenha sido introduzido no Novo Mundo por meio de navios negreiros.
Em 1762, o mosquito foi descrito cientificamente pela primeira vez, recebendo o nome Culex aegypti. O nome definitivo, Aedes aegypti, foi estabelecido em 1818, após a descrição do gênero Aedes. A primeira epidemia de dengue no continente americano, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), ocorreu no Peru no início do século 19, seguida por surtos no Caribe, Estados Unidos, Colômbia e Venezuela.
Os primeiros registros de dengue no Brasil datam do final do século XIX em Curitiba (PR) e do início do século XX em Niterói (RJ). Na época, o mosquito Aedes aegypti já estava presente no país, mas a principal preocupação era a febre amarela. Em 1955, o Brasil conseguiu erradicar o mosquito através de medidas de controle da doença.
No entanto, no final da década de 1960, o relaxamento das medidas de controle levou à reintrodução do mosquito em território nacional. Desde então, o Aedes aegypti se espalhou por todos os estados brasileiros.
A primeira ocorrência documentada do vírus da dengue no país aconteceu em Boa Vista (RR) entre 1981 e 1982, causada pelos sorotipos DENV-1 e DENV-4. Em 1986, epidemias atingiram o Rio de Janeiro e algumas capitais do Nordeste. Desde então, a dengue se tornou uma doença endêmica no Brasil, com casos registrados em todo o território nacional.
Quais são os principais sintomas da dengue?
- Febre alta, com duração de 2 a 7 dias.
- Dores no corpo, cabeça, articulações e atrás dos olhos.
- Fraqueza e mal-estar ou agitação
- Falta de apetite ou náusea e vômitos frequentes.
- Manchas vermelhas no corpo.
- Pressão baixa e extremidades frias.
- Sangramento espontâneo.
É importante ressaltar que a dengue também pode ser assintomática, ou seja, não apresentar nenhum sintoma. Em alguns casos, a doença pode se manifestar de forma leve, com sintomas semelhantes aos de uma gripe.
O que tomar em caso de suspeita de dengue? A recomendação é que, em caso de sintomas, procure uma Unidade de Saúde.
Quais são os cuidados que você deve ter?
Ao sentir os primeiros sintomas da dengue, procure atendimento médico o mais rápido possível. O diagnóstico precoce aumenta as chances de um tratamento eficaz e previne complicações graves.
Mesmo que precise ficar em casa durante o período de recuperação, evite o isolamento social. As ferramentas tecnológicas permitem que você se mantenha conectado com familiares, amigos e pessoas queridas.
Conversar, compartilhar sentimentos, dar e receber apoio são formas de fortalecer os laços afetivos e reduzir a sensação de solidão que a doença pode causar.
Assim como a Covid-19, existe um grupo de risco?
Sim, alguns grupos de pessoas são mais propensos a desenvolver casos graves de dengue, com maior chance de agravamento dos sintomas e até mesmo óbito. De acordo com infectologistas, os grupos de risco incluem:
- Pessoas de extrema idade: idosos e bebês.
- Gestantes.
- Pessoas com doenças crônicas pré-existentes: como diabetes, hipertensão, doenças cardíacas, doenças renais e doenças pulmonares.
Qual é a melhor forma de se evitar a dengue?
A luta contra a dengue começa em casa! Siga as seguintes recomendações para eliminar os criadouros do mosquito Aedes aegypti.
1. Inspeção completa:
- Faça uma vistoria completa em sua casa, buscando por qualquer recipiente que possa acumular água parada.
- Telhados: Mantenha-os limpos, sem folhas ou outros detritos que possam obstruir as calhas.
- Calhas: Desentupa-as regularmente para garantir o escoamento da água.
2. Água parada, atenção redobrada:
- Ao regar o jardim, lavar a garagem, calçada ou quintal, tome cuidado para não deixar poças de água.
- Piscinas: Cubra-as, especialmente as infláveis.
- Baldes, bacias, caixas d’água e tanques: Mantenha-os tampados ou bem vedados.
- Garrafas e pneus: Armazene-os em local seco e protegido da chuva.
- Plantas: Evite usar pratinhos com água. Se necessário, utilize areia.
3. Lixeiras e outros cuidados:
- Mantenha as lixeiras tampadas, tanto dentro quanto fora de casa, e protegidas da chuva.
- Feche bem o saco plástico antes de descartá-lo.
- Potes de água para animais: Lave-os bem com água e sabão pelo menos duas vezes por semana.
4. Áreas úmidas:
- Geladeira: Lave o coletor de água atrás da geladeira uma vez por semana.
- Ar-condicionado: Limpe as bandejas do ar-condicionado regularmente.
- Banheiros: Mantenha a tampa do vaso sanitário sempre fechada ou vedada com plástico.
- Banheiros pouco usados: Dê descarga pelo menos uma vez por semana.
- Ralos: Tampe-os com telas ou mantenha-os vedados, principalmente os que estão fora de uso.
5. Objetos decorativos e outros criadouros:
- Objetos d’água decorativos: Mantenha-os sempre limpos com água tratada com cloro ou encha-os com areia.
- Peixes: Crie peixes em seus recipientes com água, pois eles se alimentam das larvas do mosquito.
Qual repelente é eficaz contra a dengue?
Os inseticidas naturais à base de citronela, andiroba, óleo de cravo, entre outros, não possuem comprovação de eficácia e não foram aprovados pela Anvisa. Isso inclui produtos comercializados como velas, odorizantes de ambientes, limpadores e incensos que prometem repelir insetos.
Repelentes com DEET ou Icaridina: São os repelentes mais eficazes e seguros no mercado, com registro e aprovação da Anvisa:
- Icaridina: duração de dez horas.
- DEET: duração de duas horas.
- IR3535: duração de duas horas.
Para adultos, a concentração ideal de repelente é de 20% de Icaridina ou 30% de DEET, para garantir a máxima eficácia. Já para bebês menores de seis meses, o uso de repelentes não é recomendado.
Não existem medicamentos aprovados para repelir insetos. A Vitamina B ou Tiamina não apresenta eficácia comprovada como repelente e seu uso para essa finalidade não é aprovado pela Anvisa.
Os inseticidas são produtos indicados para matar mosquitos adultos. Eles são encontrados principalmente em spray e aerossol e possuem substâncias ativas que matam os mosquitos.
Repelentes são produtos que afastam os mosquitos do ambiente, impedindo-os de picar as pessoas. Eles podem ser encontrados em diversas formas, como espirais, líquidos e pastilhas para uso em aparelhos elétricos. É importante evitar usá-los em locais com pouca ventilação, especialmente na presença de pessoas asmáticas ou com alergias respiratórias.
Lembre-se: a prevenção da dengue é uma responsabilidade de todos. Se cada um fizer a sua parte, podemos vencer essa batalha!