Esse será um dia das mães completamente atípico para a maioria da população brasileira. Estamos em meio a uma pandemia, na qual o principal alvo, até agora, são os idosos. E a maneira mais eficiente e eficaz de conter a disseminação do vírus é o isolamento social.
Então, se você não mora com a sua mãe – é difícil, mas – fique em casa.
Com a data se aproximando, muitas pessoas passarão pela primeira vez o dia das mães longe da sua.
Não tem sido fácil manter a distância por tanto tempo, mas é o que melhor temos a fazer neste momento – por elas, por nós e por tod@s.
A cultura brasileira é fortemente pautada pelo contato social, pelo calor humano, pelo abraço apertado, pelo afeto intenso. Por isso, é tão difícil seguir longe daqueles que amamos. Todas essas ações que nos fazem tão bem sempre foram associadas à cura. Agora, elas são potenciais transmissoras da doença que assola o mundo todo.
É preciso seguir com o distanciamento.
Sabemos que a solidão maltrata o corpo e a mente, por isso, diante do cenário temos que reinventar as maneiras de se fazer presente.
Conversamos com Caio Vianna, psicólogo da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo para entendermos melhor como agir com os idosos nessa quarentena, em especial com as mães no Dia das Mães, e enfrenta-la de forma o mais positiva possível.
A relação mãe e filho
É importante ressaltar as diferentes formas possíveis de relacionamentos entre mães e filhos. De acordo com Caio, as relações podem ser sadias, funcionais ou não funcionais.
Independente de qual seja a relação com a sua mãe, neste momento, preocupação deve ser um sentimento que te perpassa.
As dificuldades e como enfrenta-las
“Existe uma dificuldade muito grande de compreensão de que o afeto será exercido de outra maneira a partir de agora”, diz Caio. “Quando a gente fala de afeto, de amor, de sentimento, muitas pessoas não têm habilidade ou possibilidade de fazer uma carta, um vídeo ou algo assim. O que se recomenda é fazer aquilo que realmente vai agradar a pessoa presenteada”.
Mandar flores, mandar presentes, mandar refeições é a melhor forma de aproximar e encantar as pessoas em datas festivas como o dia das mães em meio à quarentena.
Que tal escrever uma carta a próprio punho? Segundo Caio, a letra caligrafada transmite uma proximidade maior do que a digitada.
As pessoas, no geral, têm se sentido mais sozinhas – independente se estão com mais gente em casa ou não. Se envolver na tarefa de criar um presente especial e personalizado para alguém que ama, pode fazer você também se sentir menos só.
Ligue para sua mãe com mais frequência. Não só no Dia das Mães, mas se aproxime dela, pergunte como está, se está precisando de alguma coisa, sugira atividades para ela fazer no dia a dia. Se faça presente dentro das possibilidades.
Na Era Digital, isolamento social não significa solidão
Envelhecer hoje é totalmente diferente de envelhecer gerações atrás. O acesso à informação é muito mais fácil e – pode ter certeza – não há nada que um idoso não possa aprender.
Então, ensine sua mãe (caso ela ainda não saiba) a usar os aplicativos de videochamadas ou os jogosonline, que têm unido (digitalmente) as famílias em tardes de domingo.
Faça um passo a passo, tenha calma na hora de explicar – se for preciso, desenhe. Há de dar certo!
Depressão na terceira idade
Segundo Caio Vianna, as pessoas idosas têm mais chance de desenvolver depressão, porque não nos é ensinado a envelhecer. Nossa cultura é de hipervalorização da juventude e descarte da velhice. Que pode ser uma fase tão rica quanto, na qual se juntam toda a experiência de vida aos desejos genuínos e as chances de poder concretizá-los.
Estreite os laços de afeto, mesmo que à distância. É momento de ter cuidado e muito carinho.
Visitar de longe é uma opção?
Infelizmente, segundo o Caio não é uma boa opção. O momento exige isolamento real, e visitar – mesmo que só para dar um tchau do portão – implica em deslocamento. “Nós temos o dever cívico de permanecer em casa. Sem deslocamentos, para proteção de todos. Hoje, configura-se em um ato de solidariedade”. Ainda segundo Caio, esta visita só é válida quando não houver mesmo chance do contato digital, por algum motivo maior que o simples fato de não saber.
É importante mantê-las bem informadas
Sua mãe está sabendo, de fato, pelo quê estamos passando?
É preciso que haja uma conscientização do porquê ficar em casa e do tamanho da importância desse ato. Para isso, Caio indica que se usem recursos que aproximem da realidade da pessoa, como por exemplo, questionar: Já pensou se eu me contamino? Já pensou se eu passo para a senhora?
“O conhecimento tem que fazer sentido para quem o está recebendo.”
Faz-se necessário falar sobre toda a realidade que estamos vivendo. Sua mãe tem muita resiliência para lidar com tudo, acredite. Ela pode e precisa ouvir.
Mais angustiante que saber sobre o cenário atual, é a falta de informação sobre ele.
Resumo das dicas:
1 – Monitore constantemente as pessoas que você ama. Isso quer dizer, estreite o contato: seja por ligação, seja por mensagem ou vídeochamada.
2 – Reserve um momento no dia para esse contato. Assim a sensação de solidão será amenizada. Se você tiver irmãos, uma alternativa é revezar este contato.
3 – Envie presentes com um toque especial e particular seu! Se faça presente de outras formas.
4 – Incentive sua mãe a manter as atividades ou ainda aprender novas e aqui vale tudo: cozinhar, ler, ver filmes, alongar, costurar, jogar palavras-cruzadas ou quais outros jogos que estimulem o cérebro.
Infelizmente, não é o momento para flexibilizar as regras do isolamento. Aguenta firme. E pode ter certeza que sua mãe vai aguentar também! Preencha o dia das mães de forma diferenciada, mas não menos especial que o normal.
Em breve, seremos tod@s só abraços!
>> Está por dentro da ação do Mês das Mães da POSITIV.A? Confira aqui.
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Caio Henrique Vianna Baptista é psicólogo. Mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP); Especialista em Psicologia Hospitalar pelo Hospital das Clínicas da FMUSP; Especialista em Saúde do Idoso pela UNIFESP; Atualmente, Psicólogo responsável pela Oncologia e Onco-Hematologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo; Psicólogo colaborador voluntário do Instituto Vencer o Câncer (IVOC) e Psicólogo Clínico em consultório particular.