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Racismo Ambiental: Uma luta por justiça social

Racismo ambiental

Na última reunião do Fórum Econômico Mundial, a frase “o sentido da urgência é a nossa única salvação“, dita pelo Ajay Banga, presidente do Banco Mundial, ecoou em diversos veículos da imprensa. Diante disso, o debate sobre o racismo ambiental, especialmente em países com mais desigualdade social, torna-se ainda mais urgente e exige medidas concretas. A cada ano, no Brasil, com a chegada das chuvas, deixa em evidência outra parte da desigualdade social, que se manifesta nos desastres ambientais que assolam as grandes metrópoles. Durante os preparativos para o Carnaval, o Brasil parou para repercutir, positiva e negativamente, um termo dito pelo Ministério da Igualdade Racial, referente às fortes chuvas que afetaram o Estado do Rio de Janeiro: O Racismo Ambiental.   O que é Racismo Ambiental? O termo “racismo ambiental” surgiu na década de 1980 pelo Dr. Benjamin Chavis Jr., um incansável líder na luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos. Na juventude, Chavis foi assistente de Martin Luther King Jr., figura icônica na batalha contra o racismo e ganhador do Prêmio Nobel da Paz. O conceito de racismo ambiental nasceu em meio a protestos contra o despejo de resíduos tóxicos no condado de Warren, na Carolina do Norte, local onde a maioria da população era negra. Essa realidade chocante, porém, não era (e ainda não é) um caso isolado, se estendendo para diversas comunidades em todo o mundo. Mas, sendo diretos: Racismo Ambiental é a injustiça socioambiental, que afeta direta e implacavelmente grupos étnicos e comunidades vulneráveis, que se destacam por suas origens, raça e cor.

Racismo climático: quem paga nosso consumo?

Somos uma grande comunidade, e o processo de globalização deixou isso óbvio. Multinacionais, aviões, internet e redes sociais, estamos mais próximos do que nunca. E mesmo cansados de saber que a Terra é redonda, descobrimos que ela tem margens. Então quer dizer que se andarmos até a “beirada” podemos cair? Não exatamente. Vamos te explicar!   Vivemos na era virtual, onde conceitos como “web 3.0” e “metaverso” estão sendo discutidos a todo vapor, ainda existem diversas pessoas que não possuem acesso ao mínimo para sobreviver. Segundo o recente relatório da ONU, 1,2 bilhão de pessoas vivem em situação de pobreza.  A pobreza está presente em todos os lugares do planeta, mas existe um desequilíbrio nesses números. Há uma diferença geográfica, étnica e racial na distribuição das riquezas – e da falta dela também. E não precisa ir longe: uma breve volta na sua rua ou no seu bairro é suficiente para notar que a má distribuição de renda afeta as pessoas pretas mais severamente.    “Imagina você acordar todos os dias tendo consciência que talvez não exista mais planeta e as pessoas que conhecemos, que a sua galera serão as primeiras a morrer. Quando a gente olha para as enchentes de Petrópolis, que resultou em 233 mortes, podemos ver que existe uma predominância na cor dessas pessoas e são as pessoas pretas”, desabafa Amanda Costa, militante climática, no podcast Planeta CIVI-CO.    Ouça mais dessa conversa!   Sim, mas e o clima? É um exercício de observação profunda, se for possível, use até uma lupa. O racismo é um problema estrutural e age em todas as camadas da sociedade. Além de impedir o acesso das pessoas aos bens materiais, ele também as privam de espaços e até da produção intelectual.  Então podemos dizer que o racismo ambiental está atrelado a especificidades, como as que dizem respeito à origem geográfica, sociais e culturais dos indivíduos. Pois os impactos climáticos têm cor, gênero e lugar.  E em nossa sociedade, motivada pelas relações de consumo, as periferias e as populações tradicionais são as que menos consomem e as mais afetadas pelas consequências das alterações climáticas, que não priorizam o bem-estar dessas populações vulnerabilizadas.      É necessário saber de onde vem…  Sim, o racismo climático é culpa sua! Nossa culpa! Em um mundo globalizado, a culpa também é globalizada. Não é só o dinheiro que paga o que você consome, mas o suor e até o sangue de muitas pessoas, na maioria pretas e vulnerabilizadas, são moedas de troca no modelo capitalista. Por isso é bom saber a procedência, a logística e os meios de produção dos produtos consumidos. Só assim será possível construir uma relação sustentável e mais responsável socioambientalmente.    As métricas ESG têm sido adotadas como parâmetros de segurança, para determinar a procedência e transparência das empresas. É necessário priorizar os produtores primários e agrosustentáveis, como as cooperativas, associações, comunidades extrativistas, indígenas e quilombolas. Que muitas vezes são as vítimas do racismo climático.    Conheça a série “De Onde Vem” da Positiv.a!    E para onde vai Se preocupar com o descarte correto dos resíduos também impacta diretamente nas questões climáticas e nas populações vulnerabilizadas. Por isso o lixo é considerado um dos maiores problemas ambientais da nossa sociedade.    A população e o consumo per capita crescem e, junto com eles, a quantidade de resíduos produzidos. Na maioria das vezes, o lixo não é descartado de maneira correta e pode resultar em diversos problemas: Alagamentos e inundações Aumento da poluição Aumento da produção de gases  Desperdício de recursos públicos Obstrução de vias públicas  Transtornos com saúde pública   Um futuro    Ainda de acordo com o relatório da ONU, o planeta vai esquentar 1,5ºC uma década antes do previsto. As temperaturas estão subindo mais rápido do que previsto e eventos e desastres climáticos extremos serão mais frequentes.  Por isso é nosso dever fazer nossa parte e promover uma justiça climática para 56% da população brasileira que já está sofrendo diretamente com os efeitos do aquecimento global no seu cotidiano, e não são representadas nas políticas públicas sobre o tema e no processo de tomada de decisão.  É necessário construir um futuro sustentável e inclusivo, ouvindo essas pessoas e trazendo suas vivências inviabilizadas para o centro da discussão, assim como fez a COP 26 ao dar protagonismo para indígenas e moradores de comunidades periféricas.    Não existirá amanhã sem colaboração e diversidade. Junte-se a nós na luta antirracista em todas as esferas!   *Texto escrito com muito carinho pelo time de comunicação CIVI-CO